terça-feira, 27 de outubro de 2009

UM ATOR, POR FAVOR

Crítica deliciosamente ácida feita por Castagna Maia. Leia um trecho:

Lembrei disso ao ver as colunas da Miriam Leitão, em O Globo, e da Eliane Cantanhede, na Folha. Estão lá as duas ensinando política, ensinando economia, ensinando candidatos e o próprio Presidente da República a se comportar. O mais interessante é que agora resolveram ensinar a oposição a ser oposição. Antes, buscavam ensinar o Presidente da República a governar. Como parece que o sujeito desembarcou dessa furada, passaram a dar suas dicas diretamente para a oposição. Só que agora estão revoltadas com a oposição. É o caso da Miriam Leitão, hoje. Passa um pito, dá uma chamada, enquadra a oposição.


E leia a íntegra do artigo aqui, publicado no www.castagnamaia.com.br/blog2:


Conheci, certa vez, um diretor de um banco de investimentos. O sujeito era nitidamente psicopata. Comportava-se como psicopata, agia como um. E era mantido no cargo porque “apresentava resultados”, embora enlouquecesse seus subordinados. Atrapalhava o serviço de todos e, a rigor, seu papel era um só: representar a figura do “diretor de investimentos” em reuniões. Quando a reunião era apenas técnica, apenas a área técnica comparecia – e não o psicopata. Quando a reunião envolvia cúpulas, tinha aquele ar de solenidade, o psicopata era chamado. Observei o fato, à época, e concluí: precisavam contratar um ator. Isso mesmo. Aquele banco não precisava de um diretor de investimentos, mas de alguém que fizesse o papel de diretor de investimentos em coquetéis, recepções e outras solenidades. Seria uma solução fácil, barata, eficaz.

II
Lembrei disso ao ver as colunas da Miriam Leitão, em O Globo, e da Eliane Cantanhede, na Folha. Estão lá as duas ensinando política, ensinando economia, ensinando candidatos e o próprio Presidente da República a se comportar. O mais interessante é que agora resolveram ensinar a oposição a ser oposição. Antes, buscavam ensinar o Presidente da República a governar. Como parece que o sujeito desembarcou dessa furada, passaram a dar suas dicas diretamente para a oposição. Só que agora estão revoltadas com a oposição. É o caso da Miriam Leitão, hoje. Passa um pito, dá uma chamada, enquadra a oposição.

III
Nassif, hoje, aborda essa questão dos líderes da oposição se tornarem repetidores do discurso da mídia. A mídia inventa ou amplifica um fato, e sai atrás de alguém para repercutir esse suposto fato. Assim foi com a febre amarela, com a gripe A, com a ex-secretária da Receita Federal ou questões relativas à economia e, sempre, críticas a políticas sociais ou às iniciativas chamadas “anticíclicas” de combate à crise. Ou seja, a grande mídia cria uma pauta para a oposição. E a oposição, para ficar na mídia, segue essa pauta. O governador José Serra, no entanto, segundo a análise de Nassif, hoje, desembarcou dessa. Serra é um homem de história política: foi presidente da UNE até 1964, foi para o exílio, teve atuação política vigorosa quando do seu retorno do exílio. A rigor, é um homem que teve, sim, uma trajetória de confronto com a ditadura militar e de luta pelo restabelecimento da democracia. Parece que Serra se deu conta de que estava seguindo uma pauta construída pelos que lhe obrigaram a ir para o exílio, pelos que defenderam a ditadura.

IV
Esses jornalistas, portanto – no caso, essas jornalistas – resolveram, hoje, criticar pesadamente a oposição porque os pré-candidatos, nos últimos tempos, não têm feito tudo exatamente como elas queriam. Por exemplo, se depender desses jornalistas, a oposição deve fazer um discurso aberto e claramente pela entrega do pré-sal às multinacionais. Só que esses pré-candidatos são políticos, têm contato com o povo, com as diversas representações, e já se deram conta de que algumas das bandeiras defendidas pelas tais jornalistas são uma infelicidade política completa, um verdadeiro enterro político. E aí que resolveram não embarcar mais automaticamente em qualquer discurso da imprensa.

V
E volto à questão do psicopata: a rigor, a rigor, o que a grande imprensa precisa não é de um poítico. Precisa de um ator, apenas, que faça o papel de candidato a Presidente da República e, após, que faça o papel de Presidente da República. Quanto ao roteiro, será escrito integralmente pela própria grande imprensa. É a conclusão a que se chega.

Fonte: Castagna Maia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...