terça-feira, 27 de outubro de 2009

Esquerda vence outra vez

No blogue do Colunão, de Walter Rodrigues, sob o título acima:

Esquerda vence outra vez
Os 48% de votantes no ex-guerrilheiro tupamaro Pepe Mujica não bastaram para elegê-lo presidente do Uruguai neste domingo, mas indicam a tendência quase inevitável do 2o turno, no próximo dia 29/11. Seu principal adversário, Luiz Alberto Lacalle, do Partido Nacional ― o equivalente ao PSDB do Brasil ― ficou com 30%.

É muito improvável que a esquerda não consiga os 2% que lhe faltam entre os 22% de eleitores que escolheram outros candidatos.

Mujica concorre pela Frente Ampla, chamada erroneamente de “colcha de retalhos” pelo Estadão de São Paulo, quando se trata de uma coligação com nítido predomínio da esquerda. Ela é formada por comunistas tradicionais, socialistas de matizes diversos, neocomunistas mais ou menos zonzos, “democratas cristãos” e ex-guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros, talvez o mais famoso do gênero na América do Sul.

Como seus congêneres, os tupamaros foram esmagados pela repressão ditatorial militar dos anos 1970, com largo emprego da tortura e dos assassinatos clandestinos. O sadismo dos militares uruguaios rivaliza com os piores exemplos do nazismo. Um dos presídios em que mais se torcia e matava denominava-se, com deboche, Libertad.

Um dos feitos mais famosos dos tupamaros foi o sequestro e posterior execução de Dan Mitrione, um policial norte-americano que ministrou aula de tortura a militares brasileiros e uruguaios. Era tão dedicado ao ofício que certa vez usou a mala diplomática para importar dos EUA umas agulhas de aço especialmente fabricadas para enfiar sob as unhas dos prisioneiros.

A favor de Mitrione, diga-se que morreu como valente. Quando a ditadura uruguaia anunciou que não soltaria os presos que os tupamaros pediam em troca da vida dele, um dos guerrilheiros encarou o gringo:

― E agora?
― Agora vocês vão ter que me matar ― respondeu simplesmente.

Lula na bandeira

Pepe Mujica é senador e adota o discurso moderado que os novos tempos democráticos lhe sugerem. Como em outras eleições centro e sul-americanas, cita Lula como inspiração, ao passo que os adversários tentam associá-lo a Chávez.

Lula e Chávez, entretanto, grandes diferenças à parte, são aliados essenciais contra o imperialismo dos EUA, como mostram os episódios da Bolívia e de Honduras, entre outros.

O atual presidente do uruguai, Tabaré Vásquez, foi eleito há quatro anos pela mesma Frente Ampla de Mujica. A supremacia eleitoral de seu candidato confirma a atual tendência esquerdista do eleitorado sul-americano. Cujo contraponto é o anunciado recriação da Quarta Frota dos EUA nas costas do Brasil, a instalação de bases estrangeiras e a militarização agressiva da Colômbia e o golpe direitista em Honduras.

Plebiscitos

A eleição de domingo foi acompanhada por dois plebiscitos, um para anular a possibilidade de “extinção da punibilidade” dos militares envolvidos em crimes contra a Humanidade, outra para permitir o voto por carta de mais de 400 mil uruguaios (numa população de 10 milhões) residentes no exterior. O governo perdeu em ambas.

Faça-se a ressalva que muitos torturadores e assassinos da repressão foram processados e condenados no Uruguai, ao contrário do que ocorreu no Brasil. Isso pode explicar que o eleitorado, querendo enterrar o passado, ache que já é hora de por fim aos processos. Quanto ao “voto epistolar”, a derrota do governo talvez decorra do intenso nacionalismo uruguaio. Os adversários da proposta alegam que eleições futuras poderiam ser decididas por gente que não mora no país e pode ter interesses diversos dos residentes. (
, 26 de outubro de 2009-)
Fonte: Blogue do Colunão

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