sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Ibope e Folha apoiam a direita no combate à reforma agrária!

À DIREITA DA DIREITA

I
O problema da concentração fundiária brasileira é antigo. Getúlio falava da “marcha para o Oeste” e dos projetos de colonização. Após, veio a luta pela Reforma Agrária que culminou no MASTER – Movimento dos Agricultores Sem Terra, organizados no Rio Grande do Sul. Em Pernambuco havia as ligas camponesas. Isso tudo antes de 1964.
II
O Estatuto da Terra é de novembro de 1964, aprovado pelo Congresso Nacional logo ao início da ditadura, e também trazia a preocupação da desconcentração fundiária. Ou seja, é tema antigo. A concentração começou com as capitanias hereditárias.
III
Há duas questões-base para discutir esse tema: a primeira, a grilagem; a segunda, o tamanho da propriedade. Boa parte das grandes propriedades brasileiras se construiu sobre a grilagem de terras públicas. Grilagem pura e simples. Avançam as cercas, e o sujeito passa a dizer que são suas as terras que na verdade são públicas. Isso houve agora, recentemente, no “grande escândalo” da destruição de algumas laranjeiras pelos sem-terra em uma fazenda invadida em São Paulo. Aquela terra era pública, grilada. A destribuição das laranjeiras foi o protesto contra a grilagem das terras públicas. A imprensa omitiu que aquela terra é pública e grilada. Publicou, apenas, que se tratava de mais uma barbárie dos sem-terra.
IV
Agora, é publicada uma “pesquisa” do Ibope. O Ibope, a propósito, é instituto de pesquisa absolutamente desmoralizado. Quem mora no Rio Grande do Sul sabe disso: lá o Ibope já foi desmoralizado, mesmo quando, 5 dias antes das eleições, procura demonstrar “viradas sensacionais”, buscando adequar seus números à realidade. Nem sempre dá tempo de fazer essa adequação, e o Ibope já passou muita vergonha por lá.
V
Mas a última pesquisa do Ibope diz respeito a assentamentos. Pegaram um número pífio, uma amostra mínima, para demonstrar que política de reforma agrária não dá certo. Fazem referência ao não acesso a financiamentos e coisas assim, mas a conclusão é: reforma agrária, política de assentamentos, isso não dá certo.
VI
Pois essa foi a novidade dos últimos tempos. Discutia-se o que deve ou não ser considerada terra improdutiva, a partir de que tamanho e de que produção. A discussão se dava por aí. Agora, não. A nova pesquisa do Ibope – feita em parceria com a Folha – traz a novidade de buscar soterrar a política de reforma agrária – mesmo essa reformazinha mixuruca que vem sendo feita no governo Lula. De um lado, falam que não há acesso a crédito – e é provável que haja alguma verdade aí. Mas o ataque se dá à política de assentamentos e à reforma agrária.
VII
Ou seja, se colocam à direita dos militares, à direita da direita. O conservadorismo é impressionante, e é capitaneado pela CNA – Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela Senador Kátia Abreu, do PFL-DEM. Essa Senadora, a propósito, fez questão de se manifestar em defesa dos donos de uma fazenda autuada por manter trabalhadores em situação análoga à de escravos. A discussão não se dá mais sobre a forma da reforma agrária, sobre o tamanho e a produtividade das propriedades. É ataque puro e simples à reforma agrária, é o recuo de mais de 50 anos em uma discussão sobre a desconcentração fundiária.
VIII
O problema é que essa discussão acaba soterrando outra: a da bandidagem pura e simples, a da grilagem de terras públicas. Já vimos isso no caso da Reserva Raposa Serra do Sol. Toda a movimentação foi feita por grileiros de terras públicas que iniciaram uma campanha supostamente nacionalista, onde diziam que “o patrimônio brasileiro não pode ser entregue aos ínidos”. Ou seja, aos índios, não; mas a eles, grileiros, sim.
IX
Está havendo um recuo imenso nessa questão. A direita brasileira vai assumindo uma posição ainda mais reacionária do que a dos militares, ainda mais agressiva aos direitos de trabalhadores urbanos e rurais do que a dos militares. E isso tudo com o auxílio, agora, do Ibope. (Por Castagna Maia www.castagnamaia.com.br/blog2)

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