segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Almir Gabriel: neoliberal, conservador, mas militante da dignidade da política

O Arte Bancária pede licença ao deputado petista Bordalo para republicar, na íntegra, título e artigo do blog Bordalo 13 sobre a saída de Amir Gabriel do PSDB. O que significa Jatene no governo; o grau de sabujice de Jatene à Vale, enfim, todas as palavras ditas e entreditas na curta nota ditada à jornalista Rita Soares e publicada hoje no Diário do Pará.

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A tentativa de minimizar a saída de Almir Gabriel do PSDB só demonstra que ela foi da maior gravidade, principalmente pelo que escreveu em sua despedida.

Almir foi coerente como Mário Covas, disse que saiu "em razão dos atuais desvios dos princípios políticos e éticos que alicerçavam” o PSDB do Pará". Ou seja, para ele e, provavelmente, seus correligionários que aprenderam alguma coisa com o ex-governador, o PSDB não tem mais programa ou projeto, só negócios e oportunismo. O maior símbolo disso, para Almir, era a busca de alianças com Jáder, defenestrado do governo exatamente por Gabriel em 1998, numa campanha baseada no slogan "o Anhanga quer voltar, você vai deixar?". Jatene e seus pares, hoje, imploram o apoio dó presidente estadual do PMDB.

Mas, os desvios políticos e éticos dos quais fala Almir não param por aí. Ele é explícito na sua carta de ruptura: "Pressinto e lamento, principalmente, a rendição ao atual representante exibicionista do Bradesco na Companhia Vale do Rio Amargo, somada ao governo egocêntrico de São Paulo, “territorializando” a recolonização da gestão pública do Pará".

Almir não é um "velhinho", um "mito vivente", um "personagem da História", como oscila o tratamento relegado a ele por certos tucanos, como Megale e Flexa Ribeiro, além e principalmente, do próprio Jatene. É um líder importante, goste-se ou não de suas idéias. Não se trata de um vereador ou prefeito (desses que estão saindo às pencas do partido), mas de um sócio-fundador nacional, parlamentar na Constituinte de 1988 e candidato a vice-governador na chapa presidencial de Mário Covas em 1989, além, claro, de governador do Pará por duas vezes. Está vivo e ativo, como pude constatar em nosso encontro na festa do Monte Líbano. Sua experiência no Execeutivo e Legislativo o fazem conhecer muito bem as entranhas do poder, não na teoria, mas na prática mais profunda.

Jatene é um perigo para o estado

Por isso a gravidade da afirmação que, para bom entendedor, diz que Jatene foi alçado candidato por determinação de Roger Agneli, bancado politicamente por José Serra. Simão, então, será um "lambaio" de Agneli, uma das figuras mais torpes em termos de visão econômica e social do empresariado brasileiro. E o interesse de Serra nisso é manter o Pará como o almoxarifado do país onde a Vale extrai toneladas e toneladas de minérios e não deixa uma mísera fábrica de panelas, porque isso é bom dentro do modelo de desenvolvimento que Serra aplica em São Paulo, baseado nas desigualdades regionais e fundamentado na sandice de que há uma "locomotiva" no Brasil. Serra se intrometeu na disputa porque, além de possuir uma visão preconceituosa contra nosso estado, é um representante dos poderes econômicos para quem Agneli trabalha.

Foi contra essa degeneração permitida e encamihada por Jatene que Almir se levantou. Contra os negócios serem, hoje, a alma do tucanato paraense. Foi coerente com sua ideologia, de direita, conservadora, mas portadora da dignidade da política. É por isso que a disputa interna seguirá entre os tucanos, porque Almir não um único indivíduo incoveniente, há um coletivo de correligionários que optaram por ficar.

Com todas as diferenças do mundo que tenho com o ex-governador, é preciso aplaudir a conduta de resistir e denunciar a extinção da moral, idéias e propostas de um partido, porque quando eles descambam para serem "RPs" de grande interesses empresariais, quem perde é a democracia.

Um comentário:

  1. Vera e demais companheiros,

    Pemitam-me fazer contraponto ao Deputado Bordalo.

    Concordo que o Dr. Almir Gabriel, pela sua biografia e ao que representou ao PSDB, não só do Estado do Pará, é merecedor de consideração e respeito, entretanto a opinião do Deputado Bordalo, como colocada, a meu ver ter tem tão-somente a pretensão de fomentar a cizânia e/ou discórdia no "ninho tucano", posto que não retrata a realidade dos fatos.

    Ora, convenhamos, somente após a definição do futuro candidato (Jatene) do PSDB ao Governo do Estado, é que o Dr.Almir Gabriel passa a questionar os "desvios dos princípios políticos e éticos éticos" do PSDB, quer dizer o PSDB "saiu dos trilhos" na concepção do Dr. Almir, somente agora, menos de uma semana após a escolha de Jatene?

    Enquanto exerceu e postulou o cargo de governador o seu partido era exemplo de dignidade, ética, enfim : preenchia todos os requisitos de dignidade? Me engana que eu gosto!

    Essa carta do Almir parece mais é ressentimento; mágoa de quem sente-se preterido, a despeito de ter exercido os cargos políticos mais relevantes do Estado.

    Quanto ao "a rendição ao atual representante exibicionista do Bradesco na Companhia Vale do Rio Amargo" é uma tola afirmativa.

    A Vale é uma empresa que confunde-se com o Estado, dado o grau significativo de investimentos que poderá v ir a de fato realizar no Pará. O questionamento e/ou pressão exercida junto à Vale, tanto pelo atual governo como pelos anteriores, está plenamente correto. Procede o pleito de lutar para que se desenvolva a cadeia produtiva mineral aqui no Estado do Pará, para que tenhamos produtos manufaturados, com maior valor agregado, o que aumentará substancialmente a balança comercial não só do Pará mas do Brasil, trazendo benefício para o povo através de geração de emprego e renda e incremento no consumo. Isso tem que ser "construído" com muita competência e diálogo. Não se trata pois de rendição a nada, a não a ser a bom senso e a um viés que trará, indubitavelmente, melhoria nas condições de vida do povo do Pará, aliás, nesse mister, é o objetivo a que todos os governantes perseguem, não se resumem - sem sectarismo - a um objetivo que diga respeito somente ao governo do PT, como pretende aludir o Deputado Bordalo em sua carta.

    Atenciosamente,
    Josenildo Mendes
    Bancário aposentado da Caixa

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