* Por Vera Paoloni e Heidiany
Katrine Moreno
Em 2008, o Brasil celebrou os 200 anos da chegada da corte portuguesa e
a criação, por Dom João VI, da primeira instituição de crédito do país: o Banco
do Brasil. Em outubro de 2011, o Pará celebrou os 50 anos do Banpará, uma das
cinco instituições de crédito públicas estaduais remanescentes da privatização
de 22 dos 27 bancos públicos do País na década de 90.
A história do Banpará é a crônica do sobressalto e da incerteza, mas
atesta sobretudo a resistência de seus funcionários e a disposição de luta do
povo do Pará para manter uma instituição que cumpre um papel importante para
garantir crédito aos pequenos empreendedores e financiar o desenvolvimento do Estado,
com forte atuação no microcrédito em todo o Pará, embora com pouca divulgação
dessa importante atividade sócio-econômica.
O Banpará já enfrentou intervenção do Banco Central em 1987 e ameaça de
privatização ou liquidação em 1998. Nessa última turbulência, o funcionalismo
do banco abriu mão de 20% do salário durante um ano para assegurar que o banco
se mantivesse público e sob controle do estado do Pará.
Sindicato dos Bancários e Associação dos Funcionários do Banpará, com o
apoio da sociedade civil organizada, tiveram de ser engenhosos para livrar o
Banpará da metralhadora giratória de FHC. Foi um tempo de desemprego e
desespero para milhares de famílias bancárias. Tempo doloroso e cruel, mas as
entidades sindicais bancárias, o funcionalismo e a sociedade resistiu e derrotamos
no Pará o projeto neoliberal de FHC para os bancos públicos.
Mal começa 2012 e os jornais informam que o Banco do Brasil tem
interesse em comprar o nosso Banpará. Pior! Dizem também que o governo do Pará
está disposto a aceitar entre 600, 800 e 900 milhões de reais, uma bagatela por
um patrimônio público capitalizado e forte, uma alavanca à disposição da
sociedade para financiar a produção e assegurar crédito para quem produz e gera
emprego e renda. Dispensável lembrar o papel que as instituições públicas de
crédito cumpriram no País para que pudéssemos mitigar os efeitos de crise
financeira internacional em 1999, também no período FHC.
O fortalecimento do Banpará foi acentuado no governo do PT (2007 a
2010), mantendo-se em crescimento no ano passado e com muitas boas perspectivas
para 2012, incluindo expansão da rede de agências. O interesse do BB nessa nova
performance do Banpará é uma evidência desse sucesso. Faz parte da estratégia
do BB a incorporação de bancos, sobretudo os saudáveis, como já aconteceu
com a Nossa Caixa, Nosso Banco, de São Paulo e o Besc, Banco do Estado de Santa
Catarina.
Embora à primeira vista possa parecer um bom negócio, a incorporação do
Banpará por um banco público, na real, é privatização, porque diminui o papel
do estado em um setor estratégico e porque o Banco do Brasil, embora
público, tem uma política de banco privado em que a meta de negócios é uma
obsessão adoecedora, o que transforma o BB em dos campeões de assédio moral no sistema
financeiro do país.
Vender o Banpará, seja para banco público ou banco privado, é uma
atitude de lesa-sociedade, um atentado à soberania e um desrespeito ao povo do
Pará, que disse sim no plebiscito para que o estado permanecesse grande e com
capacidade de investimento, o que inclui uma instituição pública de crédito
forte, enraizada e capitalizada para tocar o desenvolvimento do estado. O
funcionalismo do banco e a sociedade paraense manterão a luta e a resistência a
toda e qualquer atentado contra um patrimônio público do povo do Pará
Não há razões técnicas ou administrativas
que justifiquem a venda do Banpará. Desfazer-se de uma empresa lucrativa, que é
um instrumento de crédito e desenvolvimento do povo do Pará, lembra em muito o
que houve com a Celpa, que o estado repassou à iniciativa privada e hoje temos,
no Pará, um dos piores sistemas de fornecimento de energia, apesar de
contribuirmos com mais de 60% das receitas da empresa que explora o que era um
serviço público. É o mesmo modelo que os que defendem privatizações querem para
a Cosanpa, a companhia estadual responsável por água e saneamento no
Pará. Temas que estão na pauta e na ordem o dia para o movimento sindical
bancário e dos que compõem a Frente contra a Privatização do Pará.
Nessa nova ameaça à existência do Banpará, resistir e resistir é o nosso
lema.
Venda do Banpará, privatização do estado? Não passarão!
* Vera Paoloni é funci Banpará e
diretora da FETEC-CN (Federação Centro-Norte dos Trabalhores em Empresas de
Crédito) e Heidiany Katrine Moreno é funci Banpará e diretora de Bancos
Estaduais do Sindicato dos Bancários do Pará.Ambas integram a corrente Articulação Bancária Pará.
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