segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O mano Castagna Maia se foi. Mas estará sempre presente!!!

 No blog lapaoloni.blogspot.com

Não é fácil perder um amigo como o Maia, irmão que se foi ontem pela manhã (14 de janeiro), aos 47 anos, após brigar com um câncer no esôfago durante 2 anos e quatro meses e se submeter a diversos tratamentos, alguns dos quais extremamente dolorosos. Fez belas descobertas nesse caminhar.

Pra mim é demais dolorosa mais esta perda, pois já se foram meu mano Zé Wilson em agosto 2009, meu amigo e  irmão Walter Rodrigues em maio 2010 e meu paizinho em abril/2011. São perdas demasiadas que se juntam  e arrancam a alma da gente em pedaços.

Maiakovski - como nós o chamávamos: Amaral, eu, Samuca, Doralvino, Onivaldo, Serpa, Graziela - era demais especial. Ácido na crítica - e o blog dele mostra isso claramente - e terno no trato do ser humano, gentil e fidalgo como poucos. Apaixonado por gente, poesia, vinho, café, Brasil, conhecimento, Getúlio Vargas e causas impossíveis, como bem lembrou o companheiro e sindicalista bancário de Brasília, Eduardo Araújo, ontem à noite, na cerimônia do adeus que acabamos fazendo no velório do Maia, em Brasília. Amaral "delírio do povão" começou, rompeu o dique e a noite adentro foi de pura emoção, choro, risos e um pouco da memória do que Maia significou em nossas vidas. Um velório incomum para um sujeito singular. Gente de todas as partes do Brasil tinha conseguido chegado à capital federal para ver o amigo pela última vez.

A breve existência de 47 anos mal completados (ele fez 47 anos dia 16 de dezembro) foi intensa e plena. Amou muito a família, a eterna namorada Ana Bede, a filhota Carol e amou cada amigo, cada amiga, sendo amigo de todas as horas, em especial as mais difíceis. Nessas, estava sempre por perto, como um alô, um e-mail, um abraço. Agenda lotada sempre e muito estudo, muita leitura, muito debate, mas para os amigos e os necessitados ele achava um tempinho, alargava o dia e o coração, tinha uma brecha pro café e pro cafuné.

Maia se comovia profundamente com as injustiças, com as sacanagens. E lutava contra todas elas, de forma competente. Amava a chuva, amava Belém, a majestade da baía do Guajará e quando aqui vinha nas lides da Capaf, do BASA,tinha prazer especial em dar um pulo  nas barraquinhas da avenida Nazaré para comer maniçoba na rua. Achava bacuri uma fruta deliciosa, única. E é.

 Amei Brasília pelas mãos e olhar dele. E juntei tanto conhecimento ouvindo ele, conversando, trocando idéias, aprendendo. Como diz Samuca, ele terá sempre nosso amor e nosso aplauso.

 Égua, não ter mais isso dói demais!

 Maia não era só terno, como generoso e discreto. A mão esquerda não sabia o que a direita fazia. Conviveu assim como amigos que não se falavam e às vezes se detestavam sem que ele jogasse gasolina pra apagar eventuais incêndios. Era um embaixador da paz que nunca abriu mão de expressão sua opinião, com luz própria.

Corajoso, viveu abrindo novos caminhos, inventando formas de caminhar na política, na advocacia e no tratamento contra o câncer. Sem esmorecer, mesmo quando a enfermidade implantou ador no seu corpo, lhe roubou o sossego e mais de 20 quilos. Festejou com os amigos e colegas do escritório os 47 anos e fez um balanço de 2011 como um ano doído, de resistência, de perdas, de idas e vindas, de sofrimento E como não se entregava, anunciou que 2012 será melhor. Não porque os fatores externos se modifiquem — e seguramente vão se modificar, mas porque o que conseguiram fazer até agora foi forjar nossa esperança até o inquebrantável.

A poesia estava entranhada nele. Recitava vários poetas e poemas assim de cabeça, entre uma petição e outra, ouvindo baixinho Astor Piazzola. E ora rindo, ora praguejando baixinho a cada nova tramóia descoberta. Lembro que numa ação judicial em que mostrava a dilacerante situação das LER (Lesões por Esforços Repetitivos) e a dor dos que sofrem de LER, abriu a petição com trechos do Navio Negreiro. "Senhor Deus dos desgraçados! /Dizei-me vós, Senhor Deus! /Se é loucura... se é verdade /Tanto horror perante os céus?! "

Profundamente estudioso do Brasil e da política, criou um blog (o 1º blog de advogado no Brasil) que virou um holofote a varrer a escuridão das tenebrosas transações. Denunciou os leilões do petróleo, foi incansával na denúncia e luta contra privatizações, terceirizações, adoecimentos. Falou sobre a soberania do Brasil e fez o mais belo resumo sobre pré-sal. Criticou acidamente os erros de parte do governo Lula e elogiou os acertos. Dizia publicamente que Lula era o melhor do PT. Votou em Dilma e fez o mais tocante texto sobre ela em fevereiro de 2010.

Viveu e falou de amor, poesia, política, saúde, denunciou muito. Lutou mais ainda contra o que está profundamente errado. Rindo, brigando e sem baixar a cabeça e a guarda.

No inverno longo da luta contra o câncer, viveu a meditação, a espritualização, a proximidade com Deus cada vez maior. E fez enormes exercícios de tolerância.

Os amigos brincavam ontem no velório que ele já deve ter puxado um banquinho e está trocando idéias com Getúlio e Brizola sobre o país. Tomara!!!

Vai na luz, meu amado irmão que tão bem combateu o bom combate!

A gente aqui vai tentar continuar o que começaste, pois a matriz ficou toda pronta.

Tem um buraco no meu peito e no de muita gente.

Beijos, Maia! Nós te amamos!!

Antes de terminar: não deixe de ler o blog do Maia. É uma aula de Brasil e de humanidade. Um farol contra a escuridão imposta pelo noticiário que sai via velhas mídias. E um doutorado sobre como é exercer a advocacia para proteger os mais fracos.

Leia também:


Morre em Brasília o advogado Castagna Maia

Luiz Antonio Castagna Maia

Falece o advogado Luiz Castagna Maia, ex-assessor jurídico da Contraf-CUT


A morte de Castagna Maia - Nassif

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Atualizado às 7:38 de 16/jan/12, para incluir a 3ª foto e este belíssimo texto sobre o veio Maia, escrito pelo amigo Samuca, ontem à noite e me enviado por mail:

O artesão da palavra

O raciocínio era preciso, ferino, brilhante.

Luís Antônio Castagna Maia falava com as mãos e os olhos, e tinha sempre um “causo” para ilustrar o alinhavo que viria a seguir.

Minha primeira lembrança dele remete às reuniões da então Executiva Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil, em 1987, na qual Maia representava os bancários de Porto Alegre.

Mais tarde comporíamos a comissão de negociação sob a coordenação de Fernando Amaral, do Sindicato de Bancários do Rio de Janeiro. Quando o gaudério pedia pra falar a gente já sabia que vinha algo mais.

 A ele se poderia aplicar o verso de Abel Silva, em canção com Sueli Costa: “Só uma palavra me devora: aquela que meu coração não diz”.
 Seu fino trato com a palavra foi um traço desse gaúcho que viveu intensamente seus 47 anos.

Depois do movimento sindical, em meados dos anos 1990, Maia integrou com o brilho usual a equipe do Gabinete de Representação dos Funcionários (GAREF), sob a batuta do menestrel Luiz Oswaldo Sant’Iago Moreira de Souza.

 Naquela trincheira, publicou inúmeros textos no “Boletim Garef”, em defesa do BB e das boas causas. Nada que saía de seu computador era vida indo em vão...

 Fora dos quadros do banco, ele construiu notável carreira como advogado, especializado em fundos de pensão, saúde e direitos do trabalhador.

Suas petições, e li inúmeras delas, pertencem à estirpe do gigante chamado Rui Barbosa. Na sua vasta biblioteca havia um livro raro com pérolas da lavra do grande jurista, em defesa de seus representados na Justiça. Maia se inspirava nele, com certeza. Não por acaso, advogou para grandes entidades sindicais, fundos de pensão dos trabalhadores, firmando suas posições no contexto sócio, político e institucional do país, com ética e rigor, sem perder a ternura, jamais – como indicara outro comandante.

Como bom ourives da palavra, ele seguia a linha de Eduardo Galeano:

 Nós dizemos não à neutralidade da palavra humana.

Dizemos não aos que nos convidam a lavar as mãos perante as cotidianas crucificações que ocorrem ao nosso redor.

À aborrecida fascinação de uma arte fria, indiferente, contempladora do espelho, preferimos uma arte quente, que celebra a aventura humana no mundo e nela participa.

Seria bela a beleza, se não fosse justa?

Seria justa a justiça, se não fosse bela?

Nós dizemos não ao divórcio entre a beleza e a justiça, porque dizemos sim ao seu abraço fecundo e poderoso.


 Entre os amigos, passamos a chamá-lo de “comandante Maiakóvsky”, reconhecendo aqui também seu gosto pela boa poesia.

Era sempre uma delícia conversar com ele sobre a obra dos grandes poetas brasileiros: Drummond (um de seus preferidos), Bandeira, João Cabral, Quintana, Vinícius, Milano, Cora, Leminski...

Da poesia para a música e literatura; a prosa com o véio Maia era de um sabor único, embalada por sua admirável cultura geral.

 Para nós, que tivemos o privilégio de conviver, respeitar e amar o véio Maia, talvez haja um atributo mais definitivo: sua reconhecida generosidade.

Sua casa em Brasília era sempre um abrigo aos seus amigos e amigas, espalhados pelos quatro cantos do Brasil.

No meu caso, seu porto seguro no Lago Sul foi fundamental, no primeiro semestre de 2004, quando fiz a pesquisa e conclusão do meu doutoramento.

Não há nenhuma palavra que possa expressar, nessa “última flor do Lácio inculta e bela”, minha eterna gratidão, amigo.

Há três anos, ele lutava contra um câncer no esôfago.

Na manhã de 12/01, às 09h28, recebo da Vera Paoloni, amiga querida, a seguinte mensagem: “Dodô acabou de ligar; Maia está muito mal”.

Seu quadro de saúde piorara sensivelmente nos últimos meses. 

 Dois dias depois, 14/01, às 09h33, recebo do Amaral, Doralvino e Vera, a um só tempo, a notícia de que nosso amigo havia partido.

No silêncio da manhã de Floripa, entrecortado pela chuva incessante, deixo a emoção fluir pelos olhos.

Um gosto de saudade para sempre se apodera de minh’alma... Busco na poesia de Gonzaga Jr. uma indicação de caminho, parodiando a canção:

“Diga lá, meu coração, que ele [o véio comandante Maiakóvsky] está dentro em meu (nossos) peito e bem guardado/ e que é preciso/ mais que nunca/ prosseguir”... 
 Seu legado estará em cada um de nós, amigos/as e familiares, na humana possibilidade de transcender os grilhões do tempo-espaço, enquanto pudermos guardá-lo na memória.

Samuel Lima (Samuca)
Jo
rnalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB).

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No vídeo, audiência pública no STF com Maia falando de forma estratégica e brilhante, em abril/2011. Obrigada pelo toque no feice, Ghyslaine Cunha:

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