A ContrafCUT vem pautando e lutando para que se debata o papel do sistema financeiro em uma conferência nacional do Sistema Financeiro, tema absolutamente na ordem do dia, diante das taxas escorchantes de juros e spreads altíssimos, além da falta de contrapartidas sociais dos bancos, financeiras e em todo o sistema.
Em nossas campanhas salariais, o movimento sindical cutista e todo o Comando Nacional ligado ao ramo financeiro vem destacando a prioridade em combate o desemprego, por meio de um outro modelo de crescimento e desenvolvimento, investindo na geração de empregos, na educação e na formação.
O movimento sindical do ramo financeiro também aponta que é preciso frear os abusos do capital especulativo. Para tanto defende que é preciso estabelecer uma taxa sobre as transações financeiras (TTF), frear a especulação financeira e eliminar os paraísos fiscais.
Portanto, combater a alta taxa de juros e spreads é tarefa estratégica do movimento sindical na luta para a manutenção e ampliação do emprego e do trabalho decente.
O Arte Bancária recomenda a leitura dos textos abaixos. São de Zé Dirceu, publicados em seu blog e no jornal Brasil Econômico:
Até quando conviveremos com esses juros?
Continuamos com o mesmo modelo juros altos, internamente, e indo ao mercado externo em busca de rentabilidade e segurança... Assim, obviamente, o Brasil virou a bola da vez. Daí a explicação para a aplicação de US$ 2 bilhões pela Coca-Cola no mercado brasileiro, em parte para ganhar com os nossos juros.
Daí, também, a operação do Bradesco que concluiu captação de US$ 1 bilhão no exterior, com a emissão de títulos no mercado externo com vencimento em dez anos. Os recursos serão utilizados para reforçar o capital do banco. A taxa: 5,75% ao ano. E para emprestar aqui, no mercado interno, por quanto? No mínimo, três vezes mais ao ano e, no máximo, a 8% ou 10% ao mês.
A propósito do spread - diferença entre o custo que os bancos têm na captação de recursos no mercado e a taxa cobrada dos clientes – ressalta o documento “Economia Brasileira em Perspectiva”, do Ministério da Fazenda, divulgado este mês: “O spread (interno) incentiva a realização de captações externas por empresas brasileiras que possuem acesso ao mercado internacional".
Não é à toa...
Aliás, essa busca de recursos no exterior não se dá à toa. Estamos falando, segundo dados do Banco Central, em um spread bancário para a pessoa jurídica que fechou o ano passado em 26,9 pontos percentuais, contra 23,5 pontos no fim de 2010. Um disparate, quando comparado ao cobrado em outros países.
Até quando vamos conviver com isto?
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Hora de atacar os spreads
Por José Dirceu, publicado no jornal Brasil Econômico, em 23 de fevereiro de 2012
O ano de 2012 se desenha promissor para que o Brasil enfrente determinados obstáculos profundamente arraigados, como a questão das altas taxas de juros.
De fato, o governo da presidenta, Dilma Rousseff, tem reunido condições para promover a derrubada da taxa básica Selic ao longo do ano, abrindo espaço para redução da dívida interna e, assim, ampliando o volume de recursos ao investimento.
O debate sobre as taxas de juros, contudo, parece nunca atingir a questão dos spreads bancários, ou seja, a diferença entre as taxas de juros de captação de recursos pelos bancos e as que eles utilizam para fazer empréstimos.
É por meio da diferença entre essas taxas que os bancos aumentam suas margens operacionais e também podem ampliar ou reduzir o volume de crédito ofertado.
Esse debate é fundamental, pois se a queda da Selic não for acompanhada da diminuição dos spreads, significa dizer que o corte não foi repassado pelos bancos aos tomadores de empréstimo.
Aliás, no auge da crise de 2008-2009, quando o governo federal deflagrou um conjunto de medidas para estimular o consumo e evitar o desaquecimento da economia, cujas repercussões seriam drásticas ao país, esse foi exatamente um dos problemas enfrentados: os bancos privados não reduziram seus spreads.
Spread alto só se explica por alta inadimplência, altos custos administrativos e tributários. Embora o principal argumento usado pelas instituições bancárias seja o de que o alto spread é para contornar custos com os empréstimos não honrados, quando cai a taxa de inadimplência, os bancos não acompanham esse movimento e mantêm os spreads elevados.
De modo que jogam com essa diferença para colherem maior rentabilidade, além de cobrirem seus custos administrativos com a cobrança dos serviços - em geral, abusiva e acima da média mundial, bem como sua altíssima rentabilidade.
Esse comportamento acaba criando uma espécie de "aversão ao crédito", desestimulando o uso de empréstimos bancários como alavanca de crescimento para micro e pequenas empresas.
O governo federal tem atuado de forma consistente para perseguir os objetivos da economia em 2012. E uma das iniciativas é justamente usar os bancos públicos - Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil - para reduzir os spreads.
A ideia é tentar atrair os bancos privados para também repassar os cortes da Selic às ofertas de crédito. Não é tarefa fácil, haja vista a alta de alguns spreads mesmo com a Selic caindo desde agosto de 2011.
Mas é preciso o governo reunir ferramentas para atacar esse antigo problema, e trazer os bancos públicos para esse combate é um primeiro passo. Não há a menor dúvida de que a hora é de atacar os spreads escorchantes.
Mas é preciso fazer esse debate enfrentando desafios centrais como ampliar a concorrência ou criar maior proteção ao consumidor. Em suma, é preciso reduzir os spreads, sem dúvida, mas tanto melhor será se ampliarmos o foco e discutirmos políticas para o setor bancário como um todo.
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